Em Santiago, capital chilena, Lula será recebido pelo presidente Gabriel Boric em uma cerimônia típica de uma visita de Estado. Será o primeiro encontro entre os dois após divergências relacionadas à Venezuela, no ano passado.
Na segunda-feira (5), Lula participará de uma oferenda floral e seguirá para uma reunião privada com Boric, no Palácio de La Moneda, sede do governo. Estão previstas também visitas ao Congresso Nacional e à Corte Suprema.
Na agenda, os chefes de Estado devem assinar 17 acordos bilaterais em diversos campos, como ciência e tecnologia, direitos humanos, segurança cibernética e educação.
A ideia é expandir laços com o governo chileno e promover parcerias econômicas em áreas vistas como potenciais entre os dois países.
“Com o Chile, nós temos um comércio relativamente equilibrado, mas acho que falta um pouco de diversificação. Nós exportamos basicamente petróleo, automóveis e carnes. E importamos cobre, produtos derivados e minério. Há espaço para diversificação”, disse a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores.
Lula e Boric também participarão de um fórum empresarial organizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil).
A viagem acontece no momento em que líderes mundiais questionam o resultado das eleições presidenciais na Venezuela.
Após acusações de fraude eleitoral no pleito do último domingo (28), Nicolás Maduro disse que expulsaria o corpo diplomático da Argentina, Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai.
De acordo com o Itamaraty, a situação no país vizinho não será discutida oficialmente entre os presidentes.
Diplomatas ouvidos pela CNN, no entanto, avaliam que, diante da escalada da tensão na Venezuela, o tema não terá como fugir da pauta.
A embaixadora também concorda que é natural que os dois presidentes conversem sobre a região durante reuniões privadas.
“Em reunião fechada é o momento em que podem conversar mais livremente. Natural que falem sobre os assuntos do dia. O comunicado será bilateral, mas não incluirá nada especificamente sobre a Venezuela”, detalhou Padovan.
Atrito no passado
A crise na Venezuela já foi tema de embate entre Lula e Boric no ano passado. Durante reunião com presidentes de países da América do Sul, em Brasília, Boric rebateu a fala do presidente do Brasil sobre as denúncias de violação dos direitos humanos no governo de Maduro.
Na ocasião, Lula afirmou que a Venezuela “é vítima de uma narrativa de antidemocracia e autoritarismo”. A declaração foi feita ao lado do presidente venezuelano após encontro bilateral no Palácio do Planalto, em maio de 2023.
O mandatário chileno descordou e afirmou que a situação no país ao norte do continente sul-americano é real e séria.
“Não é uma construção narrativa, é uma realidade, é séria, e tive a oportunidade de vê-la de perto nos rostos e na dor de centenas de milhares de venezuelanos que, hoje, vieram para nossa pátria e que exigem também uma posição firme e clara de que os direitos humanos devem ser respeitados sempre e em qualquer lugar, independente da coloração política do atual governante. Isso se aplica a todos nós”, disse Boric.
Dessa vez, Chile e Brasil estão na mesma página. Ambos cobram que o governo de Maduro divulgue dados da eleição após as “controvérsias”.
“Será uma visita simbólica que faz parte desse processo de reaproximação político-diplomática entre Brasil e Chile depois de um período de certo esfriamento desde a posse de Boric, quando houve um distanciamento entre dois países que têm 180 anos de relações bilaterais”, disse a embaixadora Padovan.
* A repórter Carol Rosito viaja a convite da ApexBrasil