O presidente Nicolás Maduro foi proclamado reeleito pelo órgão eleitoral venezuelano, mas a oposição contesta o resultado oficial. Diz que houve fraude no pleito e que pode provar a vitória de Edmundo González Urrutia.
Lula já disse não ter visto nada de “anormal” ou de “grave” no processo eleitoral do vizinho sul-americano. O petista defendeu que o impasse seja resolvido pelo Judiciário.
As declarações vieram na esteira das preocupações com a situação do país vizinho e dos esforços do Brasil para buscar normalizar as relações com a Venezuela.
Coube a Lula retomar as relações diplomáticas com o país, depois do rompimento durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). Com a reaproximação, Maduro fez em 2023 sua primeira visita ao Brasil em oito anos.
A relação do presidente brasileiro com a corrente política do chefe de Estado venezuelano, por sua vez, é mais antiga. Remonta à parceria com Hugo Chávez, catalisador do chavismo e líder da Revolução Bolivariana.
A colaboração rendeu iniciativas de integração regional e de não alinhamento automático aos Estados Unidos.
Também gerou um intercâmbio de projetos nos dois países. Construtoras brasileiras como a Odebrecht tiveram obras no país vizinho financiadas pelo BNDES, por exemplo.
Do lado brasileiro, no entanto, as promessas de parceria não tiveram tanto êxito. Um exemplo é a refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, que nunca contou com investimentos venezuelanos que haviam sido acordados.
Partido de Lula, o PT é um aliado histórico do chavismo. O posicionamento se reflete, por exemplo, na nota da Executiva Nacional do partido que saudou o processo eleitoral do país vizinho e que reconheceu a vitória de Maduro.
O chavismo reivindica a condução de um processo revolucionário na Venezuela com o objetivo de instaurar um “socialismo do século 21” no país.
Em linhas gerais, o movimento iniciado por Chávez retoma o legado do libertador venezuelano Simón Bolívar, líder de independências em países da região no século 19.
Assim, o chavismo aposta em uma forte integração regional na América Latina e em uma ferrenha oposição aos interesses dos Estados Unidos no continente.
Chávez e Lula fizeram parte da chamada “onda rosa” de governos de esquerda em países da América do Sul no começo dos anos 2000.
Logo depois da eleição de Lula para seu primeiro mandato, em 2002, o Brasil negociou o envio de um navio-tanque de gasolina para a Venezuela. O pedido foi resultado de uma convergência entre o petista, que ainda não havia assumido, e o então presidente, Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
A Venezuela passava por um desabastecimento resultado de uma greve petroleira levada adiante pela oposição a Chávez.
Meses antes, em abril, o presidente venezuelano havia sido alvo de um golpe que o tirou do poder por dois dias. Grupos da oposição, com apoio de setores empresariais e de militares conseguiram tirar Chávez da presidência e o mantiveram preso.
O golpe foi revertido e o presidente voltou fortalecido à Presidência. Anos mais tarde, em 2008, Chávez disse que esse golpe tinha o objetivo de “afetar a candidatura do Lula” em 2002.
Chávez participou da posse de Lula em Brasília, em 2003. Assim que assumiu o cargo, o petista articulou a criação do grupo de “Amigos da Venezuela”.
Composto por Brasil, Estados Unidos, México, Chile, Espanha e Portugal, a iniciativa serviu como mesa de diálogo com a oposição venezuelana depois da tentativa de golpe e das greves contra Chávez.
Sob o comando dos dois presidentes, Venezuela e Brasil atravessaram o começo do século 21 fortalecendo uma parceria estratégica. Lula e Chávez estabeleceram um ritual de reuniões bilaterais trimestrais entre 2003 e 2010.
Um dos frutos desse alinhamento foi o anúncio da construção da refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca (PE), ainda em 2003.
O projeto foi formalizado em 2007 e envolveria uma sociedade entre a Petrobras e a estatal venezuelana de petróleo PDVSA para a construção conjunto do empreendimento. Apesar do acordo, a empresa do país vizinho não aportou um centavo para a obra.
O complexo iniciou suas operações de forma parcial em 2014. Dez anos depois, já em seu terceiro mandato, Lula defendeu a retomada das obras da refinaria.
As obras foram paralisadas em 2015 pelos desdobramentos da operação Lava Jato.
Em 2006, o presidente brasileiro apoiou abertamente a reeleição de Chávez. A fala foi feita durante a inauguração de uma ponte sobre o rio Orinoco construída pela Odebrecht na Venezuela e financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O plano internacional da parceria se destaca pela organização de entidades e grupos de integração regional, como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), criada em 2008, e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), de 2010.
Em 2012, a Venezuela passa a integrar o Mercosul, grupo que reunia, à época, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Cinco anos depois, em 2017, o país foi suspenso do bloco sob alegação de ter violado protocolos com princípios democráticos.
Hugo Chávez permaneceu na presidência da Venezuela até depois do período em que Lula governou o Brasil. Em 2012, disputou – e venceu – as suas últimas eleições. Ele passaria a exercer um quarto mandato, mas morreu de câncer em março do ano seguinte.
Lula escreveu dois artigos na imprensa internacional sobre a morte de Chávez. Um no jornal argentino Página12, outro no influente The New York Times, dos Estados Unidos.
Nos textos, tratou Chávez como “companheiro” e “figura polêmica”, que não fugia ao debate e “para o qual não existiam temas tabus”.
“É preciso admitir que, muitas vezes, eu achava que seria mais prudente que ele não tentasse falar sobre tudo. Mas essa era uma característica pessoal de Chávez que não deve, nem de longe, ofuscar as suas qualidades “, disse Lula no artigo ao jornal norte-americano.
“Mas ninguém minimamente honesto pode desconhecer o grau de companheirismo, de confiança e mesmo de amor que ele sentia pela causa da integração da América Latina, pela integração da América do Sul e pelos pobres da Venezuela. Poucos dirigentes e líderes políticos, dos muitos que conheci em minha vida, acreditavam tanto na construção da unidade sul-americana e latino-americana como ele.”
Eleito vice-presidente em 2012 na chapa com Hugo Chávez, Nicolás Maduro é quem de fato governou a Venezuela a partir de 2013 por causa do afastamento do titular para tratar do câncer.
Ex-motorista de ônibus e dirigente sindical das categorias do metrô de Caracas, Maduro foi deputado e chegou a presidir a Assembleia Nacional da Venezuela. A partir de 2006, foi chanceler no governo Chávez.
Com a morte do presidente, Maduro seguiu governando interinamente até vencer as eleições que foram convocadas para definir o próximo líder do país, em abril do mesmo ano.
Lula inclusive declarou apoio à candidatura de Maduro, tendo enviado um vídeo para uso na campanha presidencial venezuelana.
Maduro já classificou Lula como uma espécie de “pai” do chavismo, pela contribuição do petista para as correntes de esquerda que emergiram do novo sindicalismo na década de 1980.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, meses antes do pleito em que sairia vencedor pela primeira vez, Maduro disse que se inspirava na “ética de Lula” e em sua “liderança trabalhadora”.
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