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Venezuela: Espanha se firma como abrigo de opositores

A chegada a Madri de Edmundo González Urrutia, adversário de Nicolás Maduro nas últimas eleições, reforçou a posição da Espanha como abrigo de opositores do regime na Venezuela.

González ainda não fez nenhuma aparição pública em território espanhol, mas divulgou, na tarde desta segunda (9), uma carta na rede social X explicando sua decisão e agradecendo ao governo da Espanha e à Embaixada da Holanda em Caracas, onde permaneceu por vários dias após as eleições.

“Tomei essa decisão pensando na Venezuela e em que o nosso destino como país não pode, nem deve, ser o de um conflito de dor e sofrimento. Fiz isso pensando na minha família e em todas as famílias venezuelanas neste momento de tanta tensão e angústia. Fiz isso para que as coisas mudem e possamos construir uma nova etapa para a Venezuela”, afirmou González. Ele agradeceu também à líder opositora Maria Corina Machado, que permanece em Caracas.

O ex-diplomata desembarcou na base militar de Torrejón de Ardoz na tarde de domingo (8) em um avião da Força Aérea Espanhola juntamente com a mulher, Mercedes González, com quem é casado há 51 anos. Foram recebidos pela filha, Carolina González, radicada em Madri desde 2014. Em entrevista ao jornal El Mundo, ela afirmou que se mudou para a Espanha devido a uma proposta de emprego feita a seu marido, mas que já tinha ligações com o país, uma vez que sua avó materna era do País Basco.

Desde que o pai foi anunciado como candidato às eleições presidenciais, Carolina passou a discursar em atos pró-democracia organizados pela numerosa comunidade venezuelana na Espanha.

González se soma a outros expoentes antichavistas em Madri. Um dos mais expressivos críticos da ditadura de Maduro, Leopoldo López, líder do partido Vontade Popular, chegou em 2020, após passar 18 meses refugiado na residência oficial do embaixador da Espanha em Caracas. Condenado a 13 anos de prisão na Venezuela, o político vive na capital espanhola com a mulher, a também opositora Lilian Tintori.

Em 2014, o pai dele, Leopoldo López Gil, também contrário ao chavismo, já havia fugido em direção à Espanha. Naturalizado espanhol, chegou a ser eleito deputado no Parlamento Europeu pelo PP (Partido Popular, de centro-direita) em 2019.

Acusado de conspiração, o ex-prefeito de Caracas Antonio Ledezma enfrentou dois anos de prisão domiciliar antes de chegar à Espanha, onde vive desde 2017, depois de conseguir fugir da Venezuela pela fronteira com a Colômbia.

Ex-presidente do Parlamento venezuelano e porta-voz opositor durante negociações com o regime, Julio Borges vive na Espanha desde 2021, após relatar ameaças e perseguições em seu país.

O refúgio ibérico não é exclusividade dos rostos mais conhecidos da oposição. Mais de um quarto dos cerca de 400 mil cidadãos da Venezuela residentes na Espanha têm estatuto de proteção internacional.

Em 2019, o governo espanhol aprovou uma lei que facilita a concessão de autorização de residência por razões humanitárias para os venezuelanos que não se enquadrem nos rígidos critérios para a atribuição de asilo. Desde então, os números dispararam. Antes da alteração, em 2018, apenas 29 pedidos haviam sido concedidos. No ano seguinte, 35.174 venezuelanos obtiveram o benefício. Em 2020, foram quase 45 mil.

Os dados mais recentes, referentes ao período de janeiro a setembro de 2023, indicam que 38.204 venezuelanos tiveram solicitações aprovadas de proteção na Espanha. Informações preliminares indicam que as cifras estão em alta.

Pela legislação, uma vez em território espanhol, Edmundo González, 75, agora precisa apresentar formalmente seu pedido de asilo. O chanceler espanhol, José Manuel Albares, já adiantou que o estatuto será concedido.

O ministro negou que o governo espanhol tenha negociado contrapartidas com Caracas para a saída do opositor. González se tornou alvo do regime desde que sua coalizão passou a se declarar vencedora do pleito após contagem paralela de cópias de atas eleitorais, cuja publicação não foi feita pelo Conselho Nacional Eleitoral, como determina a lei venezuelana.

A divulgação das atas embasou as acusações de desobediência, falsificação de documentos públicos, conspiração, usurpação de funções e sabotagem apresentadas contra González pelo regime, o que levou à sua saída.

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